segunda-feira, 10 de março de 2008

Estado-dependentes 1 – A resposta cretina do governo

Por Lisandra Paraguassú, no Estadão:

Os dados que mostram um aumento do abandono escolar em municípios com alto atendimento do Bolsa-Família, como mostrou o Estado em reportagem publicada ontem , são vistos pelo governo com reserva. Tanto representantes do Ministério do Desenvolvimento Social quanto do Ministério da Educação (MEC) acreditam que o programa ainda é responsável por levar as crianças até a escola. A evasão, afirmam, acontece justamente quando o programa deixa de atendê-las, aos 15 anos.
“No programa há um claro efeito fixador na escola. Esse menino sai aos 15 anos, mas estaria saindo aos 10. O que precisamos agora é pensar uma política para atender depois dos 15 anos”, avalia a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar Almeida e Silva.
O problema, acredita o governo, ainda está na escola, na falta de estrutura do ensino, nos problemas enfrentados por professores e diretores. “O Bolsa-Família garante a entrada na escola. Mas a política de permanência não é exclusiva da escola. É aí que entram merenda escolar, uniforme, transporte”, diz a secretária.
Mais do que isso, admite a secretária, a idéia de “direito à educação” ainda é nova. “É um direito que não se discute, mas precisa ser absorvido pelas famílias”, diz, elogiando o trabalho do Ministério Público em Cupira (PE), também mostrado na reportagem do Estado.Pilarafirma que o mesmo está ocorrendo em outras cidades.
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Reinaldo Azevedo

Tremei! O governo está pensando. Diante do fato — não do chute — de que a evasão escolar cresce nas áreas atendidas pelo Bolsa Família, o governo diz uma coisa certa para defender um equívoco. Sim, sem o programa, talvez a criança saísse antes da escola. Assim, é melhor que fique até os 15 anos. Muito bem. Então o busílis é saber se estamos diante de um programa de transferência de renda sustentado. E não estamos. Isso está aprovado. Cessou o benefício por causa da idade, adeus escola!

Não sei o que Maria do Pilar quis dizer acima, mas suspeito: “Então por que não mais bolsa?” Sei lá, dos 15 aos 18. E depois? Bem, depois, o sujeito passa a ser um adulto com direito ao Bolsa Família. E assim vai. Isso faz fortuna eleitoral? Faz, sim. Tira alguém da pobreza absoluta, a mais extrema. Sim. Trata-se de um programa com alguma inclinação para gerar atividades que, por sua vez, gere renda? Não.

Mas ninguém mexerá no programa, pouco importa quem vença a eleição em 2010. O equívoco está consolidado.

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