terça-feira, 18 de setembro de 2007

Desastres do Bolsa Esmola

Por Marta Salomon, na Folha desta terça:

Incentivada por R$ 18 pagos por mês aos pais, a maior freqüência às aulas por pelo menos 10 milhões de alunos não garantiu bom aproveitamento escolar aos beneficiários do Bolsa Família, aponta pesquisa contratada pelo Ministério do Desenvolvimento Social. O dado, ainda preliminar, revela limites do principal programa social do governo Lula.

Como primeira reação ao problema, ganhou força no governo proposta de premiar os alunos do Bolsa Família que concluíssem o ensino fundamental e o ensino médio. Mas a proposta foi para o limbo. “Pisamos no freio”, informou Rosani Cunha, secretária do ministério responsável pela bolsa.

O incentivo financeiro aos alunos aprovados -de R$ 400 para os que concluíssem a oitava série e de R$ 800 para os que terminassem o ensino médio- custaria R$ 300 milhões ao ano, de acordo com a última versão da proposta. Mas o obstáculo não foi financeiro, conta Rosani: “Havia o risco de os professores serem pressionados a aprovar os alunos”.

Em Samambaia, a 50 quilômetros do Plano Piloto, em Brasília, mais da metade dos alunos do Centro de Ensino 427 são beneficiários do Bolsa Família. Os demais não têm renda muito diferente do teto de acesso ao programa (R$ 120 mensais por pessoa). Os boletins comprovam a diferença no rendimento escolar: 73% dos alunos do Bolsa Família apresentaram rendimento insatisfatório, contra 14% de mau aproveitamento entre os demais alunos da oitava série.
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domingo, 16 de setembro de 2007

Pesquisa 1 – O governo corrupto do Bolsa Família roubou até a estabilidade

Leiam trechos do texto de Carlos Marchi que está no Estadão deste domingo. Volto depois:

O governo Lula fez três coisas boas - o programa Bolsa-Família, a estabilidade econômica e a ajuda aos pobres; e três coisas ruins - a corrupção, o apagão aéreo e a pouca atenção à saúde. Esta é a percepção do eleitorado brasileiro, colhida pela pesquisa Estado/Ipsos. O Bolsa-Família foi apontado por 43% dos eleitores; a estabilidade econômica foi citada por 20% e a ajuda aos pobres foi mencionada por 10%. Só 8% dos eleitores responderam que a maior obra do governo Lula é ‘nada’. Na outra ponta, o eleitorado brasileiro aponta como as piores coisas do governo Lula a corrupção, citada por 23%, o apagão aéreo, mencionado por 11%, e a pouca atenção à saúde, lembrada por 10%.
(…)
Para 67% dos brasileiros, o atual presidente é o maior responsável [pela estabilidade]; o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cujo governo implantou o Plano Real e sustentou os primeiros oito anos estáveis, foi mencionado como responsável pela estabilidade por apenas 7%. (…)

O atual presidente deu mais apoio aos pobres para 80% dos brasileiros; o antecessor ganhou o aval de apenas 9%. Para 73%, Lula favoreceu um melhor poder de compra do brasileiro; só para 16% Fernando Henrique foi melhor nesse quesito. Lula reduziu mais o custo da cesta básica para 73%; o ex-presidente, só para 15%. Lula controlou melhor a inflação para 66%; Fernando Henrique, só para 19%.
(…)
Os mais pobres dizem com mais ênfase que Lula deu apoio aos despossuídos. Na faixa que junta os analfabetos e os que têm até a 4ª série do ensino fundamental, 82% acham que Lula foi melhor que Fernando Henrique na ajuda aos pobres. Entre os que têm curso superior o número não é muito diferente - 79% acham que, no tópico, Lula foi melhor. Os eleitores que têm curso superior atribuíram a estabilidade mais a Lula (55%) do que a Fernando Henrique (15%).(…)
Para os brasileiros, o melhor ministro do governo Lula não é um político, não é do PT nem do PMDB - é o ministro da Cultura, Gilberto Gil, um filiado do PV, que nem da base aliada é. Ele foi citado por 4% dos brasileiros e ficou à frente dos petistas Tarso Genro, das Relações Institucionais, e Guido Mantega, da Fazenda, ambos com 3%.

Reinaldo Azevedo
Quanta coisa sai dessa pesquisa, não?

A primeira importante: o governo FHC foi um desastre em comunicação, tanto quanto o petismo é um sucesso. Constantemente vemos petistas metidos em assalto aos cofres públicos, mas o maior roubo que praticaram foi este: a estabilidade econômica. Quem pôs fim ao ciclo histórico da inflação brasileira foi o governo FHC. Poderia ser chocante o fato de também os universitários, camada supostamente mais bem-informada, atribuírem ao petista o que não lhe pertence. Mas não choca, não. O petismo mais radical, mais ideológico, está justamente entre os que têm formação superior. De resto, tal condição precisa ser pensada em suas novas características: o Brasil passa por uma fase de “supletivização” do ensino de terceiro grau. Nunca a ignorância foi tão diplomada.

A segunda questão importante guarda relação com um texto que escrevi ontem, comentando os números do IBGE. O Bolsa Família continuará a assombrar o Brasil por muito tempo. E o mais dramático é que não se forma massa crítica para combater essa barbaridade nem nos setores que estariam especialmente aptos a fazê-lo: a imprensa, por exemplo. Continuaremos amarrados por muito tempo a este programa que torna operativa a pobreza brasileira. A pesquisa Ipsos/Estadão evidencia o óbvio: no Nordeste, Lula é mais popular do que no Sul e no Sudeste.

A terceira questão importante tem a ver com o óbvio: a corrupção se transformou numa das marcas do partido que tem como lema, diz Marxilena Oiapoque, a “ética na política”. A avaliação positiva que se faz do governo Lula, no entanto, indica que esse quesito pesa menos na balança do que a tal inflexão social. Numa esfera puramente moral, temos um “rouba, mas faz caridade”. Governos ladrões ou provocam a repulsa popular ou vão deixando o próprio povo mais sem-vergonha.

A quarta questão importante, acreditem, tem como símbolo Gilberto Gil. Ele é considerado o melhor ministro do governo Lula — e isso prova que inexiste um governo; só existe Lula. O cantor aparece pouco na mídia. Sua atuação é discretíssima. Se consegue, ainda assim, ser o mais lembrado, isso dá conta do que acontece com os demais. O PT é uma máquina gigantesca, infiltrada em todas as esferas do estado e da sociedade — conta até com as práticas clandestinas típicas do velho comunismo (ver posts abaixo) —, mas, eleitoralmente, é extremamente dependente de seu líder carismático: Lula. À sua sombra, até agora, nada cresceu a ponto de vir a ser uma alternativa. E isso tem reflexos eleitorais, conforme se vê abaixo.
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sábado, 15 de setembro de 2007

Ainda o IBGE: o desastre histórico do pobrismo

Reinaldo Azevedo

A Grande Fome Brasileira, que justificaria a doação de dinheiro do Bolsa Família, é uma invenção petista. Já não existia quando Lula chegou à Presidência da República. Atenção para o que é fato, não versão. Duda Mendonça aproveitou um caco de uma fala de Lula num dos programas do PT na TV e percebeu que havia ali ouro eleitoral: “Fome Zero”. O “Fome Zero” acabou se transformando no Bolsa Família, reunião dos vários programas assistencialistas do governo FHC, porém ampliados: eles chegavam a 5 milhões de famílias e passaram a atingir 11 milhões. Esperteza petista: unificar as “bolsas” numa única rubrica e mandar ver numa gigantesca operação de marketing — coisa que o governo anterior não fazia, praticando um assistencialismo envergonhado.

Fome, fome mesmo, aquela do sujeito esquálido, o tipo “biafra” dos livros de ilustração, acabou quando a economia brasileira pôs fim à inflação. Comer o bastante para ser um pobre em pé, eventualmente até gordo, passou a ser coisa barata. Lula, com a ajuda de setores da imprensa que lhe cantam as glórias, pode entrar para a história como o presidente que acabou com o que já não existia: a fome. Se tanto, vá lá, em algumas regiões do sertão nordestino, havia resquícios daquela fome apontada por Josué de Castro (pesquisar).

Pois bem. Qualquer economista com um mínimo de compromisso com o futuro — e não com uma agenda eleitoral: é questão de escolha — pode dizer o óbvio: se os mais de R$ 8 bilhões por ano do Bolsa Família fossem investidos em saneamento, educação e saúde, o país poderia, de fato, dar um salto gigantesco na qualidade de vida, em vez dessa melhora — sim, está melhorando um pouco, lentamente, faz tempo — a que se vai assistindo, a passos de cágado.

Vejam lá o post sobre investimento em saneamento. Como pode um país submetido a sucessivas crises econômicas ter investido percentualmente mais no setor do que este mesmo país vivendo o auge da prosperidade? É evidente que estamos diante de escolhas erradas, que dão prioridade mais à agenda eleitoral do que àquela que poderia nos levar a um salto de qualidade nem diria duradouro, mas permanente.

Chego a ficar chocado com a estupidez de certas “análises”. Diz-se com a maior serenidade: “programas sociais elevaram a renda do Nordeste”. Entenda-se por “programas sociais” o Bolsa Família. Ora, digamos que, dos mais de R$ 8 bilhões anuais da área, metade vá para a região. É claro que se provoca uma elevação da renda. Queriam o quê? O dinheiro aparece na conta. A questão é outra: esse dinheiro resulta em iniciativas econômicas, trabalho, atividade geradora de renda? A resposta é óbvia: NÃO. “Ah, incentiva a microeconomia local”, dizem alguns. Não! Subsidia a microeconomia local. Pare de doar o dinheiro para ver o que acontece.

O país vive a era da maçaroca de dados. O trabalho infantil é um bom exemplo. A depender do que se quer dizer com isso, ele ainda é gigantesco: mais de cinco milhões de crianças, o que quer dizer mais de 5% da mão-de-obra. Mas ele é igual no Nordeste e no Sul? O filho do pequeno proprietário sulista que o ajuda na lavoura é um “trabalhador infantil” como é o garoto que trabalha numa pedreira, subempregado como seu pai? O indicador é tomado como um sinal da iniqüidade brasileira, embora, de fato, se estejam misturando alhos com bugalhos. A iniqüidade, que existe, é outra e está justamente onde se vêem sinais de virtude. Até que o estado for a fonte da “diminuição da desigualdade”, o que se tem é perpetuação da desigualdade. Não é por acaso que, quando se mede o rendimento médio, mesmo neste suposto momento formidável e inigualável (ou “inigualado”) da economia, descobre-se que ele é menor do que era em 1996 — e não é pouca coisa: quase 10%.

O fato é que estamos — quase todos — muito felizes com a mediocridade. Eis o ponto. Certa feita, Lula afirmou que o crescimento brasileiro não tinha de ser visto na comparação com o resto do mundo, e sim na comparação consigo mesmo. Essa deve ser uma teoria econômica criada por Kin Jong-Il e referendada por Fidel Castro. Conformar-se com o Bolsa Família como motor do desenvolvimento social brasileiro e grande fator da diminuição da desigualdade é renunciar à aspiração de deixar de ser, um dia, um país pobre. O pretexto, como se vê, é meritório: é preciso dar pão a quem tem fome. Vão se catar! É preciso dar esgoto tratado a quem não tem pra que o sujeito não pise no cocô com o pé descalço e não contraia uma diarréia, lotando os hospitais públicos. É preciso dar escola — DECENTE! — a quem não tem. Com inflação sob controle, dadas as raríssimas exceções, não se morre de fome de jeito nenhum. De resto, não estou propondo entesourar os R$ 8 bilhões. Estou cobrando que sejam investidos: sim, no social, em vez de consumidos para a produção de mais cocô sem tratamento.

Ocorre que…
Ocorre que esta crítica se perdeu completamente. Uma parte da imprensa acredita que um bom caminho é mesmo fazer a doação para os setores excluídos do capitalismo, na certeza de que jamais serão incluídos, para que se possa, então, operar segundo critérios de mercado no “Brasil que funciona”. Isso dá certo? Mais ou menos. Vamos ficando onde estamos: pobrões, medíocres, na rabeira dos outros, sempre perdendo as melhores chances. Ricardovsky Berzoniev foi tomar aulas do Partido Comunista Chinês. Ele pode nos dizer se o atual motor do crescimento mundial saiu da lama — uma boa parte dos chineses ao menos — com coisas como Bolsa Família.

Dada uma opinião pública seduzida pela caridade como escolha moral, com setores da crítica especializada cinicamente engajados na economia das compensações, um próximo governo, ainda que de oposição, não terá como desmontar a máquina criada pelo PT. Ao contrário: os partidos que hoje lhe fazem oposição se vêem compelidos a com ele emular em novas “doações”.

Assim, a contribuição do PT ao atraso brasileiro já pode ser considerada histórica. Estaremos amarrados a essa equação por muitos anos. Nesse sentido, de fato, Lula pode mesmo evocar a memória de Getúlio Vargas. Aquele nos deixou uma legislação trabalhista que, hoje, jogou na informalidade mais da metade da mão-de-obra brasileira, com os efeitos conhecidos no sistema previdenciário e de saúde. O assistencialismo como ação redistributiva também se grudou às políticas públicas como craca. Não vai mais nos deixar tão cedo. E continuaremos sorrindo, na rabeira, felizes, tendo a nós mesmos como referência. É o que nos recomenda o Estimado Líder.

Por que escrevo isso? Ah, porque não gosto de pobre. Quem gosta é Lula. Gosta tanto que quer ajudá-los para sempre, se é que vocês me entendem…