quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Da indústria da seca à indústria da pobreza

Reinaldo Azevedo

Olhem, talvez seja mesmo uma dificuldade e tanto tabular os dados coletados pelo IBGE. Mas, por mais que haja aí questões técnicas as mais complexas, os números são de quase seis anos passados. Terão ainda alguma validade? Olhem que curioso. Eu torço, sinceramente, para que estejam defasados — e, nesse caso, seriam de pouca valia. Ou, então, eles são, seis anos de Bolsa Família depois, ainda atuais. E isso seria evidência de um grande desacerto.

Vejam só. Lula é, como se sabe, bem-avaliado no Brasil inteiro. Mas quem lhe garante a popularidade na casa dos 80%, com a quase unanimidade, é o Nordeste, justamente onde o Bolsa Família é mais presente em razão dos dados que estão no CD. Parece que, então, duas coisas se misturam para produzir esse resultado espetacular: a miséria e o linimento do Bolsa Família. Terá o programa, seis anos depois, mudado as condições estruturais que permitiram coletar números tão desalentadores? Acho que não. Temo que o tal mapa, mesmo com mais de meia década de atraso, continue atual.

E, se assim for, a região assiste apenas à versão moderna da indústria da seca, com o coronelismo federalizado — sem prejuízo, como já se noticiou à farta, dos coronelismos locais. Espero que não se demore mais seis anos para sabermos se o Bolsa Família foi, então, eficiente para corrigir algumas deficiências coletadas em… 2002 e 2003. Ou se, como parece, o programa substituiu a índústria da seca pela indústria da pobreza.

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