terça-feira, 8 de julho de 2008

A política da fome e a fome de política

Reinaldo Azevedo

A fome, como vocês sabem, rende pano pra manga e voto pra urna. Em breve, Lula decretará a sua extinção — como nunca antes nestepaiz… Obra do Babalorixá de Banânia! Estaremos, então, diante de uma formidável impostura. O presidente declarará extinta a fome que já não existia havia tempos. Até por isso, o problema está longe de ser simples.

E, se é complexo e requer clareza, uma boa pedida é ler o que escreve Ali Kamel — sobre este assunto em particular e muitos outros também. Abaixo, segue um trecho de um artigo seu chamado “Garapa?”, publicado no Globo On Line. No pé do post, o link para a íntegra.
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O cineasta José Padilha, diretor dos premiados “Tropa de elite” e “Ônibus 174”, está terminando de rodar “Garapa”, um documentário que mostra o dia-a-dia de três famílias famintas do interior do Ceará. Em relação ao filme, ele disse à Folha de S. Paulo: “É eticamente inadmissível que alguém, no grupo dos beneficiados históricos deste país, olhe para os miseráveis que não têm o que comer e diga que os R$ 58 que o governo dá a eles são uma política errada”. Mais adiante, acrescentou que o valor do benefício era insuficiente para matar a fome daquelas famílias.

Ele está absolutamente certo ao fazer as duas afirmações.

Mas absolutamente errado ao acreditar que o Bolsa Família, tal como está posto, seja a solução do problema. A enorme abrangência do programa pode ser contraproducente.

Citando uma pesquisa sobre segurança alimentar, feita pelo Ibase entre os beneficiários do Bolsa Família, divulgada há pouco, Padilha disse que 11,5 milhões de brasileiros estão na mesma situação daquela em que vivem as três famílias de “Garapa”. Esse tipo de pesquisa, porém, ao contrário do que o nome sugere, não é capaz de comprovar se a fome existe de fato na população pesquisada. Com perguntas que comportam apenas um “sim” ou “não”, a pesquisa apenas registra o que informam os entrevistados sobre a própria segurança alimentar. Há uma ou duas perguntas bem objetivas, como esta: “Nos últimos três meses, os alimentos acabaram antes que os moradores tivessem dinheiro para comprar mais comida?” Mas, na maior parte, as perguntas medem mais expectativas, temores, frustrações. Dou um exemplo: “Nos últimos três meses, os moradores deste domicílio tiveram a preocupação de que os alimentos acabassem antes de poderem comprar ou receber mais comida?” Outra pergunta: “Nos últimos três meses, os moradores deste domicílio ficaram sem dinheiro para ter uma alimentação saudável e variada?”

Com perguntas assim, a pesquisa concluiu que 21% dos beneficiários (11,5 milhões de pessoas), têm insegurança alimentar grave (fome), 34%, moderada (restrição na quantidade de alimentos) e 28%, leve (não há falta de alimentos, mas o temor de que venha a faltar). Feita exclusivamente entre os beneficiários do Bolsa Família, a pesquisa pode gerar uma distorção: conhecendo os objetivos do programa, talvez os beneficiários respondam de modo a continuar a merecer o benefício. Não considero esse ponto decisivo, porém. Pesquisas de segurança alimentar são feitas de tal modo que, mesmo quando feitas na população geral, o índice dos que se declaram em situação de insegurança alimentar é sempre alto. Aqui e no mundo.

Para ler a íntegra do artigo, clique aqui

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