terça-feira, 21 de agosto de 2007

O atraso brasileiro é um sucesso!

Reinaldo Azevedo

O Estadão On Line traz esta notícia: “Um em cada quatro brasileiros recebe o Bolsa Família,um dos principais programas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social. O País tem uma população estimada em 190 milhões de brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a assessoria do Ministério do Desenvolvimento Social, cerca de 45,8 milhões de pessoas estão sendo atendidas e beneficiadas pelo programa social.” Na conclusão do texto, lê-se: “Por meio da transferência direta de renda à família, o Bolsa-Família procura erradicar a pobreza e a fome, além de reduzir a desigualdade social no País.”

Nem o próprio governo sintetizaria tão bem os nobilíssimos objetivos de seu programa. Eis aí. Estamos diante de uma vitória intelectual: a vitória intelectual do atraso. São 45 milhões os atendidos? E quantos são os que votam? Dá para perceber um motivo claro da fortuna eleitoral de Lula.

Reitero o que escrevi aqui há dias: já ninguém mais fala em portas de saída para o Bolsa Família. Ao contrário: o Ministério do Desenvolvimento Social orgulha-se de estar ampliando o programa. Gasta-se coisa de pouco mais de R$ 8 bilhões por ano para manter azeitada a Indústria da Miséria — perto da qual a antes demonizada “Indústria da Seca” era coisa de amadores.

O apelo, sem dúvida, é forte: “Vamos fazer o quê? Deixar as pessoas morrer de fome?” Com indagações broncas como essas, Lula vai levando adiante a sua mistificação. A questão, desde sempre, não é fazer ou não fazer assistencialismo. Faça-se. Mas se reconheça o caráter do programa para que outras ações de inserção social sejam postas em curso.

Ora, se os assistidos não forem estimulados a buscar as portas de saída — e o Estado pode entrar na jogada, incentivando que encontrem uma atividade econômica —, é evidente que a situação tende para a inércia, não é?

As oposições não farão esta crítica porque Lula vai acusá-las — já sugere hoje — de querer extinguir o Bolsa Família. Restaria à imprensa demonstrar o buraco sem fundo em que estamos nos metendo. Mas isso também não vai acontecer, a não ser nos casos excepcionais de sempre.

A tese antes cultivada no núcleo duro do PT de que as críticas a Lula decorrem do preconceito contra um “operário” (desde quando ele não é mais?), um homem de origem humilde, foi agora adotada pelo jacobinismo midiático.

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